sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

Morte na corrida: por que acontece? Como evitar? Especialistas explicam



     No Brasil, em Hong Kong ou em qualquer parte do mundo o assunto que está em evidência é a morte em corridas de rua. Na semana passada, dois atletas, o chinês Lau, de 26 anos, e o brasileiro Antônio Donizete, de 54 anos, morreram pelo mesmo motivo: ataque cardíaco após completarem a Meia Maratona de Hong Kong, na China, e a Volta ao Cristo, em Minas Gerais. Apesar de o jovem ter sido atendido imediatamente, não aguentou o infarto. Antônio chegou a ser levado ao hospital, ficou internado por um dia, mas não resistiu.

     Algumas perguntas que ficam na cabeça dos atletas praticantes do esporte são: por que isso acontece? Tem como evitar? Será que estou me preparando de forma errada? Afinal, o que fazer? O cardiologista Paulo Roberto Carvalho e o preparador físico, especializado em corridas, Ângelo Santiago explicaram um pouco mais sobre o assunto.

- Os casos de infarto no miocárdio, também conhecido como ataque cardíaco, são encontrados mais em homens, apesar de que nas mulheres têm aumentado muito. Para ser mais claro, o órgão necessita de sangue arterial, rico em oxigênio e esse infarto é a morte dos músculos do coração, ocasionado pela insuficiência de circulação sanguínea - disse o cardiologista.

     De acordo com Paulo Carvalho, antes de praticar qualquer atividade física, é necessário realizar uma gama de exames. O mais comuns são o hemograma, famoso check-up completo, e o teste de esforço físico, que permite detectar a presença de doenças arteriais, algum problema cárdio-respiratório ou alterações do ritmo cardíaco desenvolvidas pelo esforço. A pessoa deve se prevenir e ficar atenta aos fatores de risco (saiba como no infográfico abaixo).

     É importante ter a ajuda de um profissional de Educação Física para orientar e aconselhar na corrida. Ângelo trabalha há 13 anos no ramo e não se cansa de dar as mesmas recomendações aos seus alunos. O profissional prioriza tanto a parte física, quanto a alimentação de seus atletas. Para ele, o que também não pode ser deixado de lado é a ida ao ortopedista porque alguns problemas podem ser detectados através dos formigamentos que a pessoa sente pela má postura ou anormalidades na coluna.

- Antes de treinarem comigo, eu peço os exames para ver se está tudo bem. Após essa etapa, inicio o treino leve para a pessoa se adaptar. Mas não adianta ser atleta só de fim de semana. A atividade física tem que ser regular, repetitiva. Se não treinar várias vezes, o organismo não acostuma e fica sobrecarregado. Não esquecendo que a dieta tem que ser saudável, com pouca gordura e rica em vitaminas - falou Ângelo.

     O treinador acrescentou uma informação de suma importância: entender os limites do organismo é fundamental! Se no dia em que estiver treinando ou competindo, o corredor começar a sentir dores no peito, palpitações, enjoo e falta de ar, ele deve parar imediatemente e não insistir porque há algo de errado. O que a maioria também faz, e não deveria, é interromper a corrida de maneira brusca. Como o corredor acelera nos metros finais, esquece de diminuir a velocidade aos poucos. O correto continuar correndo devagar até parar totalmente.

     Não é possível modificar algumas causas do infarto, como a genética, mas outros fatores podem ser evitados. Por muitas vezes, o incidente acontece com pessoas que nunca sentiram nada. Noites mal dormidas, alimentação inadequada, altas doses de álcool, falta de condicionamento físico e mudança de temperatura são prejudiciais. Todo excesso faz mal. Por isso, sempre tem que ficar ligado no que o corpo diz.

     Enquanto o socorro não chega, devem ser tomadas algumas precauções: evitar que a pessoa faça qualquer tipo de esforço físico, afrouxar as roupas e não oferecer bebidas ou calmante em nenhuma hipótese"
Paulo Roberto Carvalho

- Caso o corredor tenha um ataque cardíaco, ele deve ser levado ao hospital ou ser socorrido imediatamente. Enquanto o socorro não chega, devem ser tomadas algumas precauções: evitar que a pessoa faça qualquer tipo de esforço físico, afrouxar as roupas e não oferecer bebidas ou calmante em nenhuma hipótese - concluiu o cardiologista.

     Depois de tantas informações e de casos de morte na corrida, só se prejudica quem quiser. Seguindo as orientações dos médicos e dos especialistas do esporte, o atleta pode praticar a corrida de forma consciente e tranquila.

Alguns casos de mortes em corridas

     James Fixx - O escritor, um dos maiores incentivadores da corrida, começou a correr aos 35 anos, largou o cigarro e emagreceu mais de 20kg. Com colesterol alto e se recusando a fazer o teste de esforço, morreu aos 52 anos, em 1984, de ataque cardíaco, quando participava de uma prova de 7Km. Seu pai morreu aos 43 anos também de ataque cardíaco.

     José Carlos Gomes - Em 2008, o brasileiro morreu na Maratona de Nova York após completar a prova. O atleta, 58 anos, cruzou a linha de chegada, passou mal e, após o primeiro atendimento no local, foi encaminhado para um hospital de Manhattam, onde não resistiu.

     Daniel Langdon, Rick Brown e Jon Fenlon - Em 2009, os organizadores da Maratona de Detroit informaram que os corredores de 36, 65 e 26 anos, respectivamente, morreram por problemas cardíacos. Daniel morreu pouco após completar 17 quilômetros; Rick faleceu próximo ao local, e Jon não resistiu após cruzar a linha de chegada.

Curiosidade

      Filípides não era um atleta, de fato, mas a maratona foi criada em homenagem a ele. A lenda diz que em 490 a.C., o soldado correu entre Maratona, cidade grega, e Atenas, uma distância de 42km, para comunicar uma vitória militar. Logo após dizer "vencemos", caiu morto, mas com a missão cumprida. A lenda deu nome à prova do atletismo e a tragédia do protagonista ainda se repete. A maratona integrou o programa da primeira Olimpíada moderna, em 1896, em Atenas.

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