esar de todo conhecimento empírico acerca das técnicas de
treinamento e das estratégias alimentares voltadas para aumento da massa
muscular, pouco se sabe em relação aos fenômenos fisiológicos que
determinam o processo conhecido como hipertrofia muscular
Quando se fala em aumento da massa muscular, imediatamente a maioria
das pessoas remetem à terminologia “hipertrofia”, justamente em função
deste processo fisiológico ser algo extremamente corriqueiro nos dias
atuais. As pessoas buscam o aumento da massa muscular por vários
motivos, quer seja por preocupação com a saúde e qualidade de vida ou
simplesmente por razões estéticas.
O treinamento resistido, mais especificamente a musculação, tem se
mostrado há décadas como o meio mais eficaz para se alcançar tais
objetivos. Hipertrofiar a musculatura é, desta forma, lugar comum em
tempos de world wide web, graças à maciça quantidade de informação
cientÍfica que temos de forma simples, direta e acessível.
No entanto, apesar de todo conhecimento empírico acerca das técnicas
de treinamento e das estratégias alimentares voltadas para este fim,
pouco se sabe em relação aos fenômenos fisiológicos que determinam o
processo conhecido como hipertrofia muscular.
Entretanto, a despeito da falta de conhecimento por parte do público
leigo, cada vez mais a comunidade científica elucida detalhadamente como
se dão, de fato, as alterações que levam ao crescimento da musculatura
esquelética.
Podemos definir hipertrofia, em linhas simples, como o aumento da
seção transversa do tecido muscular esquelético, porém esta mera acepção
reserva muito mais pormenores do que alguns centímetros a mais na fita
métrica podem revelar. Existe, na verdade, uma série de reações
metabólicas envolvidas no processo, desde as sinalizações a nível
celular até a síntese de proteína necessária para a hipertrofia.
Quando nos exercitamos, provocamos um desequilíbrio, um abalo na
homeostase do organismo. Em outras palavras, o treinamento induz a um
estado de estresse que funciona como um gatilho, que por sua vez,
desencadeia respostas metabólicas que possibilitarão uma adaptação
frente ao estímulo apresentado. Podemos dizer, então, que o treino é um
agente agressor; a resposta à tal agressão é que produz os resultados
favoráveis.
Na presença de contrações vigorosas – e por, conseguinte, aumento da
perfusão muscular – há produção aumentada de óxido nítrico, que promove
sinalização para secreção de GH, que por sua vez, induz à produção
hepática de somatomedinas, especialmente IGF-1, que media a migração de
células satélites para reparação e regeneração da fibra muscular,
levando a um aumento do domínio mio-nuclear (proliferação da quantidade
de núcleos no miócito), favorecendo a síntese protéica através de
aumento na transcrição.
O fator de crescimento mecânico é também uma das substâncias
responsivas ao estresse mecânico ocasionado pelo treinamento, e age no
remodelamento da célula muscular. Por outro lado, o exercício intenso
também ativa a via da Akt ou Proteína Quinase B (Pkb), especificamente
as isoformas Akt 1 e 2, que estimulam a Mtor (rapamicina alvo em
mamíferos) e inibem a Gsk 3β (glicogênio sintase quinase 3β).
Outras sinalizações, como a da via da calcineurina, ocorrem pelo
simples fato do aumento da concentração intracelular de cálcio durante a
contração muscular, ativando a calcineurina, que desfosforila os Nfats
(fatores nucleares de células T ativadas), responsáveis, por sua vez,
pelo aumento da transcrição, alterando assim, a expressão gênica.
Há evidências que outros metabólitos produzidos durante o exercício
intenso podem mediar e modular a sinalização celular para a hipertrofia
tais como lactato e a razão ATP/ADP, o que corrobora com a idéia de que a
atividade glicolítica anaeróbia ainda se mostra como a principal forma
de estimular o crescimento muscular.
O entendimento destes processos pode parecer supérfluo para a
maioria, mas se revela como uma importante arma na construção do físico
ideal. Conhecimento nunca é demais!
BONS TREINOS E ATÉ A PRÓXIMA!
REFERÊNCIAS
GUEDES, D. P., ROCHA, A. C. – Ajustes Neuromusculares frente ao Treinamento Resistido – uma revisão – CEFE, São Paulo, SP, 2008
FERNANDES et al – Determinantes Moleculares da Hipertrofia do
Músculo Esquelético Mediados pelo Treinamento Físico: Estudo de Vias de
Sinalização. Ver. Mackenzie de Educ. Fis. e Esp., 7(1), 2008, pgs
169-188.
BOFF S. R. A fibra muscular e fatores que interferem no seu fenótipo. Acta Fisiátrica. 2008;15(2):111-6.
Por Madilson Medeiros
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