Existem
em todo o mundo algumas academias que funcionam 24h, claro que
indivíduos que têm uma rotina comum treinam durante o dia, entretanto,
pessoas que por conta do trabalho trocam o dia pela noite treinam de
madrugada. Saiba um pouco sobre o que acontece com o nosso corpo durante
o dia:
A cronobiologia é a ciência que estuda as alterações
do tempo nas variáveis fisiológicas sobre as manifestações da vida e
aspectos do comportamento humano (ATKINSON e REILLY, 1996; REILLY et al.,
2003). Os ritmos biológicos são mudanças cíclicas que se repetem em um
determinado tempo como ao longo do dia, estando relacionados com os
processos fisiológicos (MINATI et al., 2006), tais alterações hormonais têm chamado considerável atenção devido
à influência na performance de atletas e não-atletas.
O ritmo
circadiano se refere ao período de 24 horas e é controlado por um
sistema de temporização circadiana (STC) conhecido como relógio
biológico central, o STC é um grupo de células localizadas no
hipotálamo, responsáveis pela duração dos processos de uma extensa e
complexa série de ritmos biológicos, administrando e ajustando horários
aos diversos sistemas do organismo, sendo a luz brilhante o principal fator ambiental para
produção endógena do ritmo (síntese e regulação da secreção) da
melatonina em exatamente 24 horas (WEINECK, 2005; ZISAPEL, 2001, NETO e CASTRO, 2008).
O exercício físico pode influenciar o processo
descrito acima e acelerar o deslocamento de fase de alguns marcadores
biológicos, como a melatonina, demonstrando uma relação direta com os
marcadores (hormônios) relacionados ao ciclo sono-vigília
(MIYAZAKI,2001), ou seja, interromper todo esse ciclo fisiológico com
exercícios em horários conturbados não é aconselhável, a não ser que o
horário fora do padrão se torne um hábito – mesmo que todo dia de
madrugada, pois o corpo se adapta e funciona no ritmo normal – o que não
deve ser feito é treinar num horário num dia, no outro em um horário
completamente diferente e assim por diante, pois desregula todo o
metabolismo. O que vale destacar é que o prejudicial não é nem treinar
de madrugada e sim que o sono a seguir não seja satisfatório e aquém das
necessidades diárias que variam de indivíduo para indivíduo mas que
engloba a média de 6 a 8horas de descanso, pois a recuperação é
primordial para alcançar os resultados pretendidos. Esta preocupação com
o sono durante o período da madrugada se justifica porque o exercício
físico provoca uma excitação do sistema nervoso, aumento do
metabolismo, aumento do fluxo sanguíneo e elevação da freqüência, tais
alterações não se estabilizam imediatamente após o treinamento, por
conta disso, o exercício tende a inibir a secreção de melatonina e
elevar a amplitude dos ritmos da temperatura corporal em vez de induzir
sonolência por causa dos níveis de catecolaminas circulantes (REILLY et al., 2003), retardando o sono.
Resultados de uma pesquisa recente realizada pelos
Centros para Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos sobre a
existência de um horário adequado para praticar exercícios apontam que o
período matutino é indicado para pessoas que têm como objetivos
técnica e concentração além daqueles que praticam atividades de longa
duração e de intensidade leve a moderada, como a caminhada; já no final
da tarde, o desempenho seria melhor para atividades de maior intensidade
porque o pico da força muscular coincide com o aumento da temperatura
corporal interna neste período; nesse horário, também é menos provável
a incidência de lesões, uma vez que as articulações estão aquecidas e
o indivíduo encontra-se em alerta máximo, de acordo com as
evidências que a capacidade de desempenho é maior no período da tarde
(vespertino) e início da noite (noturno) quando a temperatura central e o
metabolismo são próximos dos valores máximos de pico (REILLY et al., 2003).
De acordo com a fisiologia, a força muscular máxima está associada
diretamente com aumentos da temperatura corporal (GIACOMONI et al., 2005). Segundo Minati et al.
(2006) o platô do desempenho físico ocorre entre os horários das 12:00 e
as 21:00 horas, já o declínio entre as 3:00 e as 6:00 horas. A
capacidade de desempenho da força muscular tende a alcançar o auge no
final da tarde e início da noite e o pico de força pode estar
relacionado com os hormônios androgênicos, a velocidade de condução dos
estímulos nervosos, o metabolismo e a temperatura corporal, pois nesse
horário atingem seus valores máximos diários (REILLY et al., 2003).
O hormônio do crescimento (GH), testosterona, cortisol e prolactina
atingem seu pico durante o sono e sua secreção e liberação é
influenciada pelo exercício físico regular (MINATI et al.,
2006), já em relação aos ritmos das catecolaminas, adrenalina e
noradrenalina, também têm seu papel de destaque visto que mais se
correlacionam com a curva de desempenho físico, pois participam da
produção e dissipação de calor (WINGET et al., 1985; REILLY et al., 2003).
Fatores exógenos, ou
seja, de fora do organismo, tais como o sono, atividade física e
ingestão de alimentos influenciam os ritmos cardíacos na freqüência
cardíaca e na pressão arterial, embora não sigam os ritmos circadianos
endógenos, como o da temperatura corporal (REILLY et al.,
2003). Diversos fatores podem influenciar a variação circadiana da
performance física, tais como: a motivação, o estresse psicológico, a
luminosidade, a temperatura, nível de treinamento, qualidade do sono,
altitude, hora das refeições e tipo de alimentação, idade, sexo e
viagens cujos fusos horários são diferentes (WINGET et al.
,1985), o que podemos concluir é que o ciclo diário hormonal terá
horários diferentes em pessoas que vivem em continentes com
características contrárias.
É importante enfatizar
que cada indivíduo apresenta um horário de preferência para realizar seu
treinamento e também um maior grau de disposição em determinado período
ao longo do dia, sendo que cada pessoa pode ser classificada em um
determinado cronotipo, matutinos moderados e extremos, vespertinos
moderados e extremos e indiferentes (REILLY et al., 2003; REILLY et al., 1997);
o mais importante é que a pessoa respeite sempre seu relógio biológico e
treine no horário que tem maior ânimo e disposição. E mais: os
resultados do treinamento tanto noturno quanto diurno ou vespertino vão
depender muito da rotina, fatores como a boa alimentação, regularidade
no treinamento e qualidade do sono. E, obviamente, é melhor malhar no
fim da noite do que não se exercitar!
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