Prof. MS.
e Nutricionista Reinaldo A. Bassit
A
cafeína é uma droga socialmente aceita e amplamente consumida mundialmente.
Pertence a um grupo de compostos lipídicos solúveis denominados de purinas,
quimicamente conhecida como 1,3,7,-trimetilxantina (C8H10N4O2).
É
considerada, juntamente com as anfetaminas e a cocaína, uma droga estimulante
psicomotora, possuindo um efeito acentuado sobre a função mental e
comportamental que produz excitação e euforia, redução da sensação de fadiga e
aumento da atividade motora. Encontrada naturalmente em grãos de café, em chás,
chocolates, grãos de cacau, e nozes da planta cola que está presente em
refrigerantes a base de cola.
Cerca de
95% da cafeína ingerida é metabolisada pelo fígado, e só cerca de 3% a 5% é
recuperada na sua forma original na urina.
Aproximadamente 63 espécies de plantas contém
cafeína em suas folhas, sementes, ou frutos, sendo que o Brasil parece ser o
segundo maior consumidor de bebidas contendo cafeína, mais precisamente
fornecida pelo café, perdendo apenas para os EUA. Nos EUA 75% da cafeína
ingerida é proveniente do consumo do café, 15% do consumo de chás e o restante
proveniente de refrigerantes, chocolates e outros. A concentração de cafeína
presente em bebidas depende muito da origem da planta de café e do
processamento dos grãos, assim como, da concentração da preparação. Geralmente,
o café instantâneo ou solúvel contém menos cafeína que o café torrado e moído,
se for ingerido o mesmo volume.
Para se
ter uma idéia, em uma xícara(150 ml) de infusão de café pode conter em média 60
a 150 mg de cafeína, já de café instantâneo 100 mg. Uma xícara de chá pode
conter em média 20 a 50 mg de cafeína, e 360ml de refrigerante a base de cola
por volta de 50 mg. Em 2,5 xícaras de café expresso (100ml) contém por volta de
250 a 400mg de cafeína, sendo que, a ingestão média de cafeína pode variar
entre 100 a 300 mg/dia.
A
cafeína, até pouco tempo atrás, era considerada doping pelo Comitê Olímpico
Internacional (COI), se fosse encontrada uma concentração maior do que 12mg/ml
na urina do atleta. Esse valore pode ser alcançados com a ingestão de 4 a 7
xícaras de café (600 a 800 mg) consumidos num período de 30 minutos.
Ainda,
indivíduos os quais degradam a cafeína lentamente ou excretam grandes
quantidades de cafeína não metabolisada na urina, tinham elevado risco de
atingir os valores considerados doping. Além disso, a ingestão de tabletes de
cafeína, que parecem aumentar a absorção da droga quando comparados à ingestão
no próprio café, ou o uso de supositórios de cafeína ou de injeções, atingiam
facilmente os valores considerados doping.
As
metilxantinas têm duas ações celulares bem caracterizadas que são a grande
habilidade em inibir as fosforilases do ciclo dos nucleotídios, aumentando
desse modo o AMPc intracelular; e antagonizar a ação de receptores mediados
pela adenosina.
As
propriedades farmacológicas dessas metilxantinas são: relaxamento da
musculatura lisa (notadamente dos brônquios); estimulam o sistema nervoso
central e o músculo cardíaco; e atuam como um diurético aumentando a produção
de urina. Essa última parece ser devido ao aumento da filtração glomerular e do
fluxo renal, especialmente na medula, no entanto, os mecanismos envolvidos
permanecem ainda controversos.
Dentre
as metilxantinas a absorção de cafeína pelo trato gastrointestinal é mais
rápida e tem seu pico plasmático atingido dentro de uma hora. No entanto, o
clearance renal é muito rápido, e sua meia vida plasmática está por volta de 3
a 7 horas, sendo prolongada em duas vezes em mulheres que se encontram nos
últimos estágios de gravidez, ou com o uso prolongado de anticoncepcionais
esteroidais. As metilxantinas estão distribuídas em todos os tecidos corporais
em volumes similares (0,4-0,6 l/kg), atravessam facilmente a placenta e se
difundem, também, para o leite materno. O primeiro passo do metabolismo da
cafeína acontece no fígado por um processo conhecido como desmetilação e
oxidação na posição 8, portanto envolve o citocromo P450.
Seus
efeitos ergogênicos sobre a performance aparecem em doses da ordem de 3 a
5mg/kg, 1 hora antes do exercício, e foram observados, notadamente, em
exercícios de endurance (longa duração), força e potência. Esses efeitos se
embasam na capacidade que a cafeína tem em facilitar a liberação de epinefrina,
estimular a vasodilatação, a lipólise, a glicogenólise, e funciona como um
broncodilatador. O aumento da lipólise pode resultar em “glicogen sparing”, ou
seja, um efeito poupador do glicogênio levando o atleta a resistir maior tempo
ao exercício prolongado. Como inibidor da enzima fosfodiesterase, a cafeína
pode pontecializar a ação do AMPc, elemento importante para conversão das
fosforilases e da lipase hormônio sensível em suas formas ativas. Facilita a
mobilização do cálcio do retículo sarcoplasmático e aumenta a sensibilidade das
miofibrilas e das subunidades da troponina C a esse íon. Atua como antagonista
competitivo dos receptores para adenosina, um depressor do SNC. Pesquisas
recentes tem se voltado para seus efeitos no SNC e sobre o desenvolvimento da
força muscular como mecanismos ergogênicos promissores.
Um
estudo realizado com corredores de endurance que consumiram aproximadamente 10
mg de cafeína por kg de peso corporal mostrou aumento significante de 1,9% no
tempo de esforço até a exaustão, demonstrando que grande dose de cafeína
aumenta a performance de endurance. Outros mostram, ainda, que não existe uma
relação direta dose-resposta sobre a performance de endurance, não havendo
nenhum benefício quando ciclistas ingeriram doses de cafeína acima de 5mg/kg do
seu peso corporal, e que nenhum dos sujeitos do estudo ultrapassou o limite
urinário que era estipulado pelo COI. A cafeína parece ter, ainda, um efeito
benéfico sobre a performance durante eventos de curta duração (até 25 minutos).
No entanto, a performance em tais eventos não parece ser limitada pelo
esgotamento do glicogênio, mas possivelmente por outros fatores, incluindo a
estimulação neural e muscular.
Existem
inúmeras controvérsias sobre o consumo de cafeína e problemas relacionados à
saúde, porém, alguns pequenos problemas são relatados quanto ao excesso do
consumo dessa droga como: agitação, ansiedade, irritabilidade, tremor das mãos,
insônia, dor de cabeça, irritação gástrica, aumento da freqüência cardíaca e da
pressão arterial. Alguns estudos isolados sugeriram que o consumo de cafeína
aumentava o risco de câncer, doença cardíaca coronariana, câncer de mama,
osteoporose, e outras. Pesquisas mais recentes descartam essas possibilidades
visto que o consumo moderado (média de 200 mg/dia), ou seja, 2 a 3 xícaras de
café, não irá colocar a maioria dos indivíduos saudáveis sobre risco de saúde.
Quanto aos efeitos do consumo excessivo de cafeína, geralmente não ocorre risco
significante à saúde ou lesão permanente, porém, a overdose pode ocorrer, sendo
que a LD-50 (dose oral letal necessária para matar 50% da população) para
cafeína está estimada em 10g (150-170mg/kg de peso corporal), quando se
alcançam valores plasmáticos acima de 30mg/ml.
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